
Donizete: "E o Benfica tem cara de campeão!"
É certo que os brasileiros nunca foram grande coisa a prever o futuro, ou não tivesse o então petiz Kaká estado a aquecer o banco para Léo "Gascoigne Carioca" Lima nas camadas jovens do escrete. Esse sim, era a grande promessa. Esse e o Leandro do Bomfim, símbolo máximo da criatividade extemporânea do futebol feito arte plástica espelhada no quadro da vida.
Porém, estes dois mamíferos exageraram.
Tudo bem, a pré-época é a primavera da vida. Um mês antes do esférico rolar comme il faut, todos os sonhos são permitidos, todo o Escalona é Roberto Carlos, todo o Bossio é Oliver Kahn, e todo o Benfica é pré-campeão. Pelo menos para o diário "A Bola".
Mas em 1996/1997? Uma equipa cujo esteio defensivo dava pelo nome de Jorge "Own Goal" Bermúdez, cujo centrocampista nuclear era um cinquentão Valdo, bem secundado por Nica Basarab e José Calado, que serviam perfumadas trufas numa bandeja de ouro a Hassan Nader, Fabrice Alcebíade Maieco e ao mortífero carteiro sem aviso de recepção, Martin, o Pringle? Esse Benfica?
OK, Jamir. Seja feita a tua vontade.
E daí, talvez não.
O clube do jovem Jamir acabaria o campeonato a 27 pontos do campeão, nada menos que uma equipa que contava com nomes do calibre de Andrzej "Popeye" Wozniak, Lars "Not Ulrich" Eriksson, Silvino "Não Sou" Louro e Henrique "Eu Assisti À Segunda Fase Da Revolução Industrial" Hilário para defender o seu último reduto.
Mas seja feita justiça ao coriáceo centrocampista de Vera Cruz. Diga-se aqui que não terá sido por sua culpa que o Sport Lisboa de seu coração não terá sorvido o cálice da glória do seio do triunfo.
Aos olhos da crítica (que não os do Coveiro Amaral, sempre discordantes entre si) Jamir foi um dos raios de luz que aqueceram o longo e gélido inverno lisboeta de 96/97. Brilhante na forma esquemática como interpretava a táctica do pirilau, emprestando-lhe uma passividade dotada de inteligência emocional ao mais alto nível.

Sejamos francos: será a passividade ofensiva um crime de lés-a-águia, quando nas asas de um condor o sonho desliza impotente, sem Rei nem Hélio Roque, sem Ilian Iliev ou pedra de toque?
Será a não-participação nas tarefas defensivas punível com a guilhotina dos críticos, ou será apenas uma mera descarga de esgoto num outrora límpido lago, somente inquinado em dias ímpares por Hélderes holandeses de nome Glenn?
Será a falta de talento condenável com pena capital, ou será uma mera fatalidade semelhante a uma lesão muscular do Hugo Leal?
Questões que ficam por responder, tal como Paulo Autuori ainda espera tranquilamente que Jamir responda de primeira a um cruzamento de Donizete vindo da direita. Porque uma vez pé-canhão, sempre pé-canhão.